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"I Love Paraisópolis" é a mais nova novela das 19h da TV Globo
(estreia em 11 de maio) com um núcleo central da trama situado na favela
- ou comunidade, como preferem alguns - do bairro do Morumbi, na
capital paulista.
Não é de hoje que parte das histórias de
dramaturgia da emissora se ambienta em locais que fazem referência a
zonas menos nobres das grandes cidades. Apenas recentemente, em novelas
como "Cheias de Charme", "Salve Jorge", "Lado a Lado" (esta mais de
época), alguns dos mais belos e belas atores e atrizes do elenco da
emissora personificavam personagens menos favorecidos socialmente, em
papéis como moradores de barracos cenográficos.
Na atual novela
das 21h, "Babilônia", um núcleo se concentra numa favela, local de onde
quem vence na vida, como a advogada Paula (Sharon Menezes), trata de se
mudar. Mas lá ainda vivem a mocinha Regina (Camila Pitanga), seu irmão
atleta e amigos.
Dias atrás, o fundador e dono do Facebook, Mark
Zuckerberg, anunciou em encontro no Panamá com a presidente Dilma
Rousseff a expansão do seu projeto de levar internet gratuita para áreas
remotas. No Brasil, foi escolhida a favela de Heliópolis, a maior da
cidade de São Paulo, com 1 milhão de metros quadrados. A mesma
Heliópolis foi anos atrás palco de um visitante famoso. Em 2008, o então
craque da seleção francesa de futebol Zinedine Zidane inaugurou ali um
quadra poliesportiva, numa ação de um patrocinador.
O Morro Dona
Mata, no Rio de Janeiro, também coleciona visitantes ilustres. Além do
mais famoso deles que ganhou até estátua, Michael Jackson, que gravou
ali em 1998 um videoclipe, outros passaram apenas para conhecer, como
Madonna. Outras como Beyoncé e Alicia Keys também gravaram, e
blockbusters do cinema americano como "Velozes e Furiosos 5" e "Se
Beber Não Case 3" tiveram cenas no Dona Marta. O longa-metragem nacional
"Tropa de Elite 2" também.
Enfim, a atração do cinema por estas
locações é também extensa. Como escreve a acadêmica Ivana Bentes,
professora da UFRJ, no seu ensaio "Sertões e Favelas no Cinema
Brasileiro Contemporâneo: Estética e Cosmética da Fome", o fascínio que a
geografia e a paisagem do sertão exercem sobre nós tem como
contrapartida urbana o fascínio pelos territórios dos subúrbios e
favelas. Para ela, a "favela é o cartão-postal às avessas, uma espécie
de museu da miséria, etapa histórica, não-superada, do capitalismo e os
pobres, que deveriam, dada toda produção de riquezas do mundo, estar
entrando em extinção, são parte dessa estranha 'reserva', 'preservada' e
que a qualquer momento sai do controle do Estado explode, 'ameaçando' a
cidade".
Não tem como não lembrar de Joãosinho Trinta, o lendário
carnavalesco, com sua máxima: "O povo gosta de luxo. Quem gosta de
miséria é intelectual".
Mas é essa miséria que vem abastecendo
novos roteiros, ou pelo menos servindo para sua ambientação. Nesta "I
Love Parasópolis", uma festa de lançamento em São Paulo
contou com a presença de diversos moradores, líderes das associações
locais e dos figurantes da trama. Na decoração da festa, uma prevaleceu
uma estilização do ambiente criativo que a falta de recursos proporciona
nas moradias mais simples das favelas, com uma profissão de objetos
muito populares - jarros de plástico em formato de abacaxi, potes de
maionese para servir bebidas, piscina de plástico para gelar bebida.
Em
março, estive numa apresentação feita na agência de publicidade Grey
Brasil. Foi um encontro com o fundador e presidente do instituto Data
Popular, Renato Meirelles, e o tema era "A Nova Favela Brasileira",
baseado em pesquisa que gerou um livro publicado por ele sobre o
assunto.
Meirelles deixou claro em sua apresentação aos publicitários que não
estava se referindo a minorias, pois são 12 milhões de brasileiros
morando em favelas, pertencentes a um mercado emergente das classes C, D
e E.
Entre outras, Renato Meirelles destacou se tratar de uma
população cujo montante de consumo anual atinge R$ 68,5 bilhões. Ele
cravou que os índices de crescimento econômico na favela superam o
percentual geral do Brasil, mesmo em tempos de crise, uma vez que para
os seus moradores, a crise não é a exceção, mas sim a regra de sempre.
São pessoas que fazem muitos trabalhos extras (os "bicos"), pesquisam
muito pelo melhor preço na hora da compra e que compram menos produtos
piratas que outras camadas de classes mais altas da população. A empresa
de pesquisas aferiu ainda que as intenções de aquisição de bens de
consumo entre os moradores de favelas são significativas: 2 milhões
pretendem comprar TV nova , 1,7 milhão querem adquirir um tablet e 2,4
milhões querem viajar de avião no prazo de um ano - não por acaso, há
uma agência de viagens dentro da favela de Paraisópolis, de grande
movimento.
Talvez por este prisma seja possível entender melhor a
necessidade de se inserir esta parcela significativa da população nos
roteiros das telenovelas, como forma de gerar identificação com os
personagens e tramas. Como declarou Mario Teixeira, um dos autores de "I
Love Paraisópolis": "Balzac tinha uma coisa genial: mostrava para os
ricos como os pobres viviam, e para os pobres como os ricos viviam",
disse à jornalista Cristina Padiglione, de
O Estado de S. Paulo, complementando que espera fazer um pouco isso na novela.
Vamos
supor que essa premissa seja verdadeira, e os novelistas podem mesmo
ser os Balzacs de nossos tempos. Mas tenho o palpite que a pesquisa do
Data Popular também explique muito sobre esta opção da televisão.
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