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Já vi Preta Gil arrastar uma multidão em Salvador/BA
de cima de um trio elétrico lotado de homem bonito, a maioria atores de TV, enquanto
ela cantava os hits do Carnaval. Lá pelas tantas, elas soltou: “Sou mulher,
tenho celulite sim, e sou feliz”. Pelo jeito, isto incomoda muita gente.
Esta semana fomos bombardeados pelas imagens do
casamento da cantora com Rodrigo Godoy. Como todo acontecimento do gênero
envolvendo celebridade, era de se esperar a repercussão, haja visto que a
cerimônia vinha sendo muito anunciada nos últimos tempos em diversas
plataformas, mídias sociais, em ações promocionais feitas pela própria artista,
criando um “buzz” em cima de ocasião tão especial.
Mas eis que as fotos da cerimônia religiosa cheia de
pompa e da festa luxuosa repleta de famosos espalhadas pela internet em
diversos sites e também nas redes sociais vieram acompanhadas de uma quantidade
lamentável de comentários ofensivos em relação à cantora, à sua forma, características físicas e aos gastos do
regabofe.
Particularmente não acho que celebridades precisem
ser reverenciadas e enaltecidas o tempo todo. Pelo contrário, acredito que quem
opta por ter uma vida pública e dela viver também tem de arcar com o ônus da
fama. E creio que nossa mídia de celebridades sempre trilhou mais pela
exaltação dos famosos, numa exposição negociada entre as partes, diferentemente
do modo que atuam as mídias especializadas dos EUA ou Reino Unido. Por lá, os
veículos de comunicação são muito mais “ácidos” nas suas abordagens e dispostos
sempre a quebrar a privacidade no afã de sair na frente com furos de notícias
sobre a vida dos famosos.
Mas o ódio vindo do público é algo sem analogia com
a cobertura da mídia. Desde que se abriram os espaços para comentários de
notícias nos portais e com a adesão em massa às redes sociais, a internet deu um
fantástico e louvável poder às pessoas de se expressarem em tempo real sobre os
mais diversos assuntos. Infelizmente, ao mesmo tempo, a distância real que o
usuário mantém do destinatário de sua mensagem, o anonimato e a comodidade de
se estar atrás de um teclado também despertaram num número cada vez mais
crescente de pessoas o potencial de verbalizar seu amargor, preconceito, racismo
ou acusações sem qualquer fundamento sobre os mais diversos temas. São os
chamados “haters”, gente que destila sua raiva por meio de comentários nada
elaborados, achando que o fato de gerenciarem um perfil próprio na internet
lhes concede o poder de julgar e ofender qualquer pessoa no mundo segundo seus
próprios conceitos.
O programa da Band “CQC” criou recentemente um quadro muito
elucidativo sobre este tipo de comportamento. A atração localiza nas redes sociais
e nos comentários de notícias alguns destes “haters”. O repórter marca uma
conversa diante da câmera com o internauta selecionado para falar sobre um tema
qualquer, e de repente ele mostra a postagem onde a pessoa xingou, ofendeu,
acusou alguém de forma preconceituosa. Invariavelmente, as pessoas atribuem a
“mancada” a um ato impulsivo, impensado, justificando-se, pedindo desculpas e
reconhecendo o próprio erro. Vale a pena conferir.
Mas voltemos a Preta Gil. Filha de um dos maiores
talentos da MPB desde o século passado, ela é negra, tem 40 anos e um filho de
20, é tipo “cheinha”, casou-se com um homem mais jovem, bonito e sarado. Pior,
ela tem dinheiro. Isso tudo junto e misturado despertou tanta ira que nem vou
listar os insultos que li ao longo da semana que passou.
A cantora está sempre nos programas da TV Globo. No
ano passado, ela estrelou uma campanha para Havaianas “Esta é a minha, qual é a
sua?”, criada pela agência AlmapBBDO. No comercial de TV, denominado “Fama”, ela
contava como começou sua fama de “pegadora”. Com bom humor, lembrava uma
vizinha que se incomodava com seu barulho. Preta chegava de madrugada em casa e gritava de alívio
ao trocar o sapato de salto plataforma pelo conforto das sandálias de dedo. Certamente
levou um bom cachê.
Gilberto Gil é um artista reconhecido internacionalmente
e o fato de ter sido ministro da Cultura – cargo que deixou em 2008 - não significa automaticamente que sua
herdeira tenha utilizado dinheiro público no seu casório, como tantos saíram acusando.
Mesmo porque Gil ganha muito bem pelo seu trabalho – o show dele só com
sucessos de João Gilberto foi o melhor que vi em 2014!
Da última vez que ouvi de um contratante, o cachê para
um show de Gil beirava os R$ 200 mil reais – e já se vão anos. A mulher dele, Flora,
organiza um camarote de sucesso só para convidados no Carnaval de Salvador onde
os patrocinadores disputam cada espaço disponível. Enfim, dinheiro privado não
há de faltar na família.
Também já soube que levou a assinatura de Preta Gil a
coleção de roupas de maior sucesso de vendas da C&A – não, não foi uma coleção
da Gisele Bündchen.
Sim, porque nossa população não é magra. A pesquisa “Vigilância
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico”,
do Ministério da Saúde, feita em 2013, indica que 50,8% dos brasileiros estão
acima do peso e 17,5% são obesos.
Sim, a maioria no nosso País é autodeclarada preta e
parda: juntos, os conceitos de pardo e preto formam a população negra do país,
que em 2013 era de 53%, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras de
Domicílios) divulgados em 2014 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística).
Preta tem a cara e o corpo da brasileira, e não
precisa pedir desculpas por ter dinheiro e se sentir bem consigo mesma. Vivam e
deixem-na ser feliz!
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