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Neste ano, o Rock in Rio celebra 30 anos. Foi o primeiro grande
festival internacional de rock que aconteceu no País e que colocou o
Brasil de vez no circuito dos megaconcertos. Mas não foi apenas a
multidão de 1,5 milhão de pagantes ao longo de dez dias naquele terreno
na zona oeste da capital fluminense que viabilizou o evento. A vinda de
tantos astros internacionais jamais trazidos para um mesmo palco por
aqui como Queen, Yes, AC/DC, Scorpions, Whitesnake, Nina Hagen, ao lado
de expoentes do cenário roqueiro nacional, foi viabilizada com o
patrocínio principal de uma nova marca de cerveja, que nem existe mais
no mercado: a Malt 90.
Significou o que se chama hoje uma
plataforma integrada de comunicação para o lançamento de um produto. A
ação inédita incluía, além da multidão presente naquela chamada Cidade
do Rock, a transmissão do evento pela TV, com a exposição da marca da
cerveja para a massa. E a emissora escolhida à época foi a TV Globo, que
investiu em equipamentos até então inexistentes por aqui para captação,
edição e transmissão dos shows. É sem dúvidas um dos marcos da TV
Globo no seu cinquentenário.
Escrevo esse texto após a maratona de
shows do Lollapalooza Brasil, que aconteceu no último final de semana
no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, e que abriu a temporada dos
grandes festivais internacionais de rock de 2015. Haverá ainda o
Monsters of Rock em São Paulo em abril e mais uma edição do Rock in Rio,
em setembro, só para citar os maiores.
Diferentemente do que
aconteceu em outros grandes festivais ao longo dos últimos 25 anos
(infelizmente não estive no primeiro Rock in Rio), a este Lollapalooza
assiti no aconchego do meu sofá, zappeando entre os dois canais da TV
por assinatura (Multishow e Bis, ambos da programadora Globosat) que se
revezavam na transmissão de shows simultâneos. Na web, havia até 4
canais disponíveis para vermos o que acontecia em todos os palcos. Na TV
aberta, os shows foram gravados e exibidos na TV Globo durante a
madrugada. A emissora aberta tinha feito no decorrer de toda a semana
uma cobertura ostensiva do evento em todos os seus telejornais.
São
dois festivais distintos: um você vê no conforto de casa, com a bebida e
comida que tiver à mão e com a proximidade do toalete privativo; o
outro é uma maratona onde se percorre um espaço tão amplo quanto um
autódromo para ir de um palco a outro. Resumindo a experiência para você
não se cansar: há shows simultâneos ou intervalos mínimos entre um e
outro, que ocorrem em palcos dispostos com muita distância entre si. A
justificativa é que assim se isola o som, e cada palco não interfere na
acústica do outro. Ao final de dez horas de música, um fã que quiser ver
as atrações principais de cada palco terá no mínimo percorrido uma
dezena de quilômetros - sem contar a distância que se anda até os
portões de entrada e saída desde os estacionamentos ou transporte
público.
Foram 136 mil pessoas nos dois dias do Lollapalooza 2015.
A Prefeitura paulistana foi rápida em contabilizar os ganhos para a
cidade, divulgando um movimento extra de mais de R$ 90 milhões na
economia local, por conta do turismo que o festival gerou.
Nem
sempre a televisão consegue transmitir megashows. Em 2013 houve um
esperado concerto da banda Black Sabbath em São Paulo, em show para 70
mil pessoas no Campo de Marte, mas sem acordo para transmissão na
televisão. Outras vezes, questões de contrato interferem na própria
exibição. No Rock in Rio 2013, um dos artistas - Anthony Kiedis,
vocalista do Red Hot Chili Peppers - entrou no palco com uma camiseta
que ostentava um concorrente de um dos patrocinadores, e a TV foi
obrigada a exibir o tempo todo o seu carão em close, para não enquadrar a
logomarca da Brahma em evento que tinha publicidade da Heineken. Num
lance de esperteza, Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, bebeu e
divulgou a marca de cerveja do grupo no palco, aproveitando para
criticar o gosto daquela oficial do evento. Em 2014, Paul McCartney
cantou na inauguração do novo estádio do Palmeiras, com TV e algum delay
na transmissão , mas a produção simplesmente mandou cortar o sinal bem
no meio de uma música: havia se esgotado o tempo contratado.
É
importante que o caminho pavimentado pelo Rock in Rio há 30 anos siga
aberto. Que as TVs negociem junto a produtores e empresários os shows
para um público sempre maior, vendendo patrocínios, ajudando a máquina a
girar e possibilitando a vinda dos grandes nomes e também de novas
bandas para cá. Afinal, os custos das turnês seguem galopantes e é
difícil para o público assimilar ingressos ainda mais caros.
Quem
assistiu ao Lolla pela TV não passou por perrengues, não pagou R$ 10
por uma cerveja no local, não tomou chuva nem enfiou o pé no gramado
molhado do autódromo. E ainda viu de casa um ícone do rock como Robert
Plant, um Jack White vigoroso e os esperados Kasabian e Interpol sem
precisar pagar um ingresso de R$ 340 (fora taxas, valor da inteira para
cada dia) e sem estresse. Em se descontando o fato de apresentadores
tratarem a audiência como se fôssemos todos adolescentes - uma delas até
cometeu a heresia para roqueiros de não saber de cor a formação do Led
Zeppelin! -, é um conforto inegável poder comentar em tempo real um show
com os amigos na sala ou com conhecidos e desconhecidos na internet.
Não precisamos gritar para sermos ouvidos nem somos empurrados como
acontece nas pistas dos shows. Com a definição do televisor high
definition e som dolby digital então, é quase como estar ali. Quase.
Vi
pela TV, acordei bem e descansada, sem os pés machucados de tanto andar
nem roupas molhadas e sujas de terra, e ainda economizei uns bons
trocados mais um tanto de energia. Levantei disposta para trabalhar e
seguir a vida na segunda-feira. Foi muito bom ver pela TV. Tanto que
espero voltar a fazê-lo em próximos grandes festivais de rock, quando eu
preferir a comodidade da minha sala à emoção de presenciar tudo
in loco. Mas só a partir de 2030!
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