Novembro de 1993. Luzes apagadas. Apenas uma lua
cheia no palco. Um corpo deslizava pelos pés, em silêncio, na ida e na vinda ao
longo de 50 metros de frente do palco no gramado do estádio do Morumbi, com sua
sombra refletida no telão de fundo. Ao tirar o chapéu, os acordes iniciais, e Michael
Jackson cantou pela primeira e única vez em São Paulo. Por sorte, eu estava lá.
*
Daqui a um mês – mais precisamente em 25 de junho - serão
4 anos desde a morte do popstar. Aos fãs, parece que foi ontem, e a sua vaga
não tem como ser preenchida. Para as novas gerações, já faz tanto tempo que
eles mal sabem do legado do cantor, compositor e dançarino tão controverso na
sua vida pessoal e completamente genial na sua produção artística.

O musical Thriller Live Tour, que está excursionando
pelo País depois de correr alguns países da América Latina, funciona mesmo como
um resgate dessa memória recente mas já perdida no meio de tanta informação pop.
O show tem palco fixo no hall dos espetáculos musicais lá fora - está em cartaz em Londres. Seus direitos
para a Broadway foram negociados quando o cantor ainda era vivo.
Em São Paulo, fica até o final do mês no Credicard Hall, numa operação que mobilizou dezenas de empresas patrocinadoras, com incentivos da Lei Rouanet. Não é um espetáculo barato - os crooners, bailarinos e músicos são na maioria ingleses; há os cenários, efeitos de palco... e acima de tudo, os direitos das canções. MJ era artista Sony.
Para os mais jovens, é um show
que traduz em som e dança um pedaço daquele fervilhão musical dos anos 80; pra quem vivenciou, faz relembrar
e emocionar. A ambos os públicos, entretém.
Mas é preciso se desarmar, estar de coração aberto.
De início, a estrutura do espetáculo – aquela concepção
bem da gringa, cheia de didatismo – assusta quem não está acostumado. Dá medo de que vejamos um
documentário, com legendas, narrador ora em português, ora em inglês, uma porção de informações... (“Não, se eu quisesse ver um documentário do The
History Channel ficava em casa”!)
Mas eis que logo de cara o que vem é um número do
Jackson Five, que só conhecemos do YouTube em preto e branco ou num Technicolor
sofrível. E toma conta do palco um Michael
Jackson criança interpretado com impressionante talento pelo carioca Felipe
Adekotunbo. Que, ainda por cima, tem semelhança física com o astro naquela idade.
É o melhor da primeira parte do espetáculo.
“Thriller Live Tour” é dividido em 2 atos, que somam
quase três horas de muita música, dança e efeitos especiais de fazer os
celebrados musicais de Möller&Botelho se repensarem tecnicamente por aqui. As
execuções de “ABC” – devidamente coreografada e estilizada aos anos 70 - e “I’ll
be There” são deliciosas.
Chega-se à era Disco, iluminada com um globo gigante
de espelhos, e mal se percebe que é na verdade uma imagem holográfica em 3D.
São quatro intérpretes para Michael adulto, três ingleses e um brasileiro – sendo uma
mulher -, que se revezam entre os números. Todos cantam,
dançam junto ao corpo de 14 bailarinos.
Uma banda oculta no fundo do palco de
vez em quando aparece, com uma pegada bem roqueira, com destaque na bateria e
guitarras, talvez uma estratégia para apresentar o pop do astro de uma forma mais
atraente para os mais novos.
Como todo bom musical, os cenários e figurinos se
revezam, e a gente busca o tempo todo os elementos que consagraram os videoclipes
da cada canção. Mas, para interpretar
Michael Jackson, ou se canta, ou se dança. Não há se não o próprio quem faça os
dois.
Por isso, o dançarino que melhor encarna os passos e trejeitos do cantor apenas
dubla as duas canções mais esperadas de todo o espetáculo: “Billy Jean” e “Thriller”
– o primeiro, a consagração do ‘Moonwakling’, e o segundo, o hit, álbum e
melhor videoclipe (superprodução de John Landis) de todos os tempos.
Vi o musical com meu filho adolescente, que na
verdade conhecia mais de MJ do que ele mesmo pensava. Saímos os dois extasiados, por motivos meio diferentes: ele, pela novidade de um musical assim; eu, pelo reencontro com minhas memórias.
As músicas do espetáculo:
"ABC"
"The Love You Save"
"I Want You Back"
"I’ll Be There"
"Show You the Way to Go" / "This Place Hotel"
"Shake Your Body"
"Blame It On the Boogie"
"She’s Out of My Life"
"Off the Wall"
"Get on the Floor"
"Rock With You"
"Never Can Say Goodbye"
"Don’t Stop Til’ Get Enough"
"Can You Feel It"
"Wanna Be Starting Something"
"Dancing Machine"
"P.Y.T."
"Beat It"
"The Way You Make Me Feel"
"I Just Can’t Stop Loving You"
"Smooth Criminal"
"Dirty Diana"
"Dangerous"
"Man in the Mirror"
"They Don’t Care About Us"
"Heal the World"
"Billie Jean"
"Thriller"
"Bad"
"Black or White"
"Smooth Criminal" e "Thriller" (bis)
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